O Teatro do Colégio Mãe de Deus ficou lotado na noite do último dia 19 de outubro durante a palestra “Valores e Virtudes para uma Vida que Vale a Pena Ser Vivida”, ministrada pela médica geriatra e escritora, Dra. Ana Claudia Quintana Arantes, de São Paulo (SP). O evento, promovido pela Unimed Londrina, registrou um público de cerca de 500 pessoas e marcou as comemorações do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, celebrado sempre no segundo sábado do mês de outubro.
A plateia formada por médicos cooperados, enfermeiros, técnicos de enfermagem, colaboradores e convidados da Unimed Londrina acompanhou atenta e participativa a apresentação feita pela geriatra.
Lucieire Ramon, gerente do serviço de Assistência Domiciliar, ressaltou a relevância da palestra como uma oportunidade de disseminar conhecimento sobre os cuidados paliativos. "Através de eventos como este, conseguimos espalhar conhecimentos valiosos sobre os cuidados paliativos, contribuindo para um entendimento mais amplo e sensível desse tema tão essencial na área da saúde", comentou.
Dra. Raquel Barcelos, médica da Rede de Cuidados Humanizados, explicou que a realização da palestra foi uma opção encontrada para falar sobre o tema, com sensibilização e conhecimento técnico. "A palestrante é uma das maiores referências no assunto. Sua experiência e vivência com os cuidados paliativos vêm conquistando um público cada vez maior, seja por meio de suas palestras, cursos e livros. Então, esse evento coroou a nossa celebração, e espero que o público tenha aproveitado bem essa oportunidade", avaliou.
Palestra
Arantes destacou que os cuidados paliativos, apesar de todo o tabu que envolve por estar relacionado com a morte, vêm ganhando um importante reconhecimento por parte dos profissionais de saúde. “O tema ainda esbarra em questões religiosas, culturais e profissionais. Mas apesar de todas as adversidades, tem quem faça dele uma boa prática. O tema morte já não está mais no necrotério. Os cuidados paliativos agora entram pela porta da frente dos hospitais”, afirmou.
A médica destacou ainda o fato de que a questão religiosa já não tem sido um problema quando se fala em cuidados paliativos. “O Vaticano promoveu um congresso no Rio de Janeiro sobre o tema. O problema são as pessoas religiosas, ou seja, o problema continua sendo as pessoas”, comentou.
Arantes também falou que a própria ciência e os profissionais de saúde são uma dificuldade para a questão dos cuidados paliativos. Segundo ela, ainda é comum ouvir dizer que esta prática é adotada quando já não há mais o que se fazer.
Sobre esta dificuldade, a palestrante informou que em 2010 foi publicado um estudo pelo The New England Journal of Medicine explicando que pacientes sob cuidados paliativos vivem três meses mais que aqueles que não recebem esse tratamento. “Esses resultados se repetiram mais vezes e ainda assim continua sendo um tabu fazer o paciente viver mais?”, questionou.
A médica também elencou uma série de valores que devem ser considerados para que a vida seja algo com que valha a pena interagir. O primeiro valor é a sobrevivência, que exige coisas básicas, mas indispensáveis, como ter onde comer e dormir. O segundo são os relacionamentos. “Só existimos porque os outros existem. Não é possível viver independente. Nossa educação falhou neste aspecto. Ser independente é ser cego para a realidade”, explica.
Outro valor destacado é a autoestima. Segundo a geriatra, na área da saúde há uma dificuldade muito grande por parte do profissional em se reconhecer o próprio valor. “Precisamos que o chefe diga que a gente é bom”, pontuou. Ela disse também que às vezes o profissional precisa do reconhecimento da família e do paciente. “E para quem trabalha com cuidados paliativos é ainda mais trabalhoso esse espaço da autoestima, pois o principal reconhecimento não vamos ter, já que o paciente morre”, comentou.
A humildade é outro valor apontado pela palestrante. “Precisamos reconhecer que não somos perfeitos e que não precisamos agradar a todos. Quando não fazemos isso, estamos nos machucando, pois estamos colocando nas mãos do outro o reconhecimento do nosso valor”, afirmou.
Arantes falou também sobre a importância do autocuidado como uma ação de autoestima, para então se entrar no espaço da humildade, que é reconhecer que se tem muito o que aprender. “Se você acha que sabe de tudo, você não envelheceu. Você estragou”, disse.
Segundo a médica, essa capacidade de aprendizagem continua nos levar para um outro valor, que é a coerência. “Você não pode tratar bem seu paciente e seus familiares e desonrar seu espaço profissional, afetivo e familiar. Não pode ser um médico que recomenda atividade física, alimentação saudável, manda o paciente descansar, mas não adota essas práticas para sua vida”, salientou.
A Dra. Ana Claudia Quintana Arantes tem formação em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), com especialização em Cuidados Paliativos e Suporte ao Luto. A médica também é autora de livros, como “A Morte é um dia que vale a pena viver” (Ed. Sextante), um dos mais reconhecidos da sua carreira.